quinta-feira, 15 de março de 2012

Barbara.

Quem passasse por aquela rua poderia ver Barbara na calçada. Estava sempre ali, sentada, ouvindo e sorrindo para os transeuntes que por lá andavam. Conservava os traços finos de quem já fora bela, um dia. Tinha os cabelos louros, encaracolados, deslizavam até a cintura e poderiam causar inveja se não estivessem sempre tão desgrenhados. Não tinha ambição, não tinha vaidade. Poderia ser jovem, mas levava o âmago de quem já aprendera com o sofrimento e o avançar da idade.
Quem por ali passasse, poderia ver Barbara sentada na calçada. Sempre sorrindo, sempre dizendo bom dia - boa tarde - boa noite!
As pessoas que por ali transitavam acostumaram-se a ver Barbara ali, sentada: a viam tanto que passaram a não enxerga-la. Mas se um dia, alguém se atrevesse a olhar através dos olhos de Barbara, seria capaz de sentir a dor na alma que ela carregava. Eram as dores dos sonhos não vividos, dos amores perdidos, dos desejos contidos. Era a dor pelos que já foram e por aquilo que não foi. A dor de ter se acostumado com o não: não devo, não posso, não consigo, isso não é para mim. Carregava tanta dor que, sem saber o que poderia fazer, ela acostumou-se a sorrir...

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